sábado, 19 de setembro de 2015

A CRÍTICA


    Convidada a fazer uma preleção sobre a crítica, a conferencista compareceu ante o auditório superlotado, carregando pequeno fardo.

    Após cumprimentar os presentes, retirou os livros e a jarra de água de sobre a mesa, deixando somente a toalha branca.

    Em silêncio, acendeu poderosa lâmpada, enfeitou a mesa com dezenas de pérolas que trouxera no embrulho e com várias dúzias de flores frescas e perfumadas.

    Logo após, apanhou na sacola diversos enfeites de expressiva beleza, e enfileirou-os com graça.

    Em seguida, colocou sobre a mesa um exemplar do Novo Testamento em capa dourada.

    Depois, diante do assombro de todos, depositou em meio aos demais objetos pequenina lagartixa, num frasco de vidro.

    Só então se dirigiu ao público perguntando:

    O que é que os senhores estão vendo?

    E a assembleia respondeu, em vozes discordantes:

    Um bicho!

    Um lagarto horrível!

    Uma larva!

    Um pequeno monstro!

    Esgotados breves momentos de expectação, a expositora considerou:
    Assim é o espírito da crítica destrutiva, meus amigos!

    Os senhores não enxergaram o forro de seda alva, que recobre a mesa.

    Não viram as flores, nem sentiram o seu perfume.

    Não perceberam as pérolas, nem as outras preciosidades.

    Não atentaram para o Novo Testamento, nem para a luz faiscante que acendi no início.

    Mas não passou despercebida, aos olhos da maioria, a diminuta lagartixa...
    E, sorridente, concluiu sua exposição esclarecendo:
    Nada mais tenho a dizer...
* * *
    Quantas vezes não nos temos feito cegos para as coisas e situações valorosas da vida.

    Acostumados a ver somente os fatos que denigrem a sociedade humana, volvemos o olhar para os detritos morais das criaturas.

    Assim, criticamos a mídia por enfatizar as misérias humanas, os desvalores, as fofocas e as intrigas, mas, em verdade, isso tudo só vem a lume porque ainda nos comprazem. Em última análise, é o que vende!

    Não há espaço para uma mensagem edificante, e os que teimam em veicular coisas e situações nobres, o fazem sob o peso de enormes dificuldades.

    É imperioso atentarmos para os nossos valores ou desvalores, antes de levantarmos a voz para criticar a sociedade e os meios de comunicação em geral.

    É importante observarmos os nossos interesses pessoais antes de gritarmos contra os governantes, sem esquecer que eles só ocupam os cargos depois de eleitos por nós.

    Enfim, é relevante atentarmos para os que buscam divulgar o bem e o belo e candidatarmo-nos a engrossar essas fileiras.

    Assim, com a exaltação do bem, em detrimento do mal, com a evidência da paz, em vez da guerra, com a elevação do perfume sobre os odores fétidos, a sociedade logrará sobrepujar as misérias, evidenciando as belezas e os atos de essência superior, e encontrada será a felicidade perene.

(Redação do Momento Espírita, com base no cap.  7 do livro Bem-aventurados os simples, pelo Espírito Valerium, psicografia de Waldo Vieira, ed.  Feb. - www.momento.com.br)

 

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